Nesta nova série de artigos procuraremos entender juntas o que a Palavra de Deus quer dizer quando nos dá esta ordem. Quais as esferas de nossas vidas são tocadas por ela? Como podemos não pecar contra o Senhor e como podemos nos manter puras no meio de uma geração tão perversa? Quais as consequências de desobedecermos deliberadamente esta ordem?
Antes de entrarmos na proibição propriamente dita, gostaria de elencar algumas questões que estão por trás desta ordem, que não é arbitrária ou sem motivo. Se entendermos a complexidade que há por trás dela, também entenderemos o cuidado de um Pai zeloso por seu povo, que não admite misturas, que não compactua com o pecado e que odeia qualquer transgressão de sua lei. O questionamento que muitos se fazem é: por quê? Por que não podemos manter comunhão com os incrédulos? Vejamos algumas razões pertinentes:
Porque existe uma grande diferença entre o ímpio e o crente
A primeira coisa que precisamos entender é a diferença de status que existe entre os filhos de Deus e os filhos do maligno. Não podemos esquecer que não existe time do meio, “café com leite” ou pessoas que são indiferentes para Deus. Ou eles são seus filhos ou são inimigos de fato. É assim que a Bíblia coloca aqueles que não temem ao Senhor! Não podemos contemporizar e fingir que não estamos entendendo. Na leitura de toda a Bíblia podemos ver claramente duas linhagens: a de Caim e a de Abel. A dos filhos de Deus e a dos filhos do Diabo. Os que serão salvos e os que serão eternamente condenados. Não temos como minimizar esta verdade: todos os que não foram regenerados pelo Espírito Santo de Deus, têm a ira de Deus sobre si. As Escrituras estão repletas de textos que nos mostram esta verdade. São tantos os textos, que tive dificuldade em separar alguns…
Antes de lermos alguns destes textos, gostaria que você se lembrasse do significado de algumas palavras. Quando a Bíblia fala em ímpios, perversos, impiedade e iniquidade, não está falando apenas de homens muito muito maus: assassinos, malfeitores, corruptos, ladrões e adúlteros. A palavra iniquidade significa qualquer falta de conformidade à Lei de Deus, aos seus mandamentos, expressos em toda a Bíblia. Portanto, não obedecer deliberadamente à Palavra de Deus faz de um homem, por mais honesto e moralmente bom que pareça, um iníquo, um ímpio, um perverso perante o santo Senhor e Juiz de toda a Terra. Lembre-se disso enquanto estiver lendo os versos abaixo e veja a clara ira do Senhor contra estes.
“Os ímpios, no entanto, perecerão, e os inimigos do SENHOR serão como o viço das pastagens; serão aniquilados e se desfarão em fumaça”. Salmos 37.20
“Quanto aos transgressores, serão, a uma, destruídos; a descendência dos ímpios será exterminada.” Salmos 37.38
“Os perversos serão lançados no inferno, e todas as nações que se esquecem de Deus.” Salmos 9.17
“Filhinhos, não vos deixeis enganar por ninguém; aquele que pratica a justiça é justo, assim como ele é justo. Aquele que pratica o pecado procede do diabo… Nisto são manifestos os filhos de Deus e os filhos do diabo: todo aquele que não pratica justiça não procede de Deus, nem aquele que não ama a seu irmão.” I João 3.7-10 (Praticar a justiça= obedecer à Palavra de Deus!)
“Por isso, quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, todavia, se mantém rebelde contra o Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus.” João 3.36
“Quem nele crê não é julgado; o que não crê já está julgado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus. João 3.18 (Lembre-se do que Tiago fala sobre crer em Deus. Este crer está relacionado a obedecer, não a acreditar somente, pois até os demônios crêem e tremem!)
“Infiéis, não compreendeis que a amizade do mundo é inimiga de Deus? Aquele, pois, que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus.” Tiago 4.4 (ser amigo do mundo é pensar e viver não como Deus deseja, mas como o mundo anda)
“O caminho dos perversos é como a escuridão; nem sabem eles em que tropeçam.” Provérbios 4.19
Nos versos que se seguem, vemos ainda mais clara a separação que é feita entre aqueles que são do Senhor e aqueles que não são, entre os filhos e os bastardos, entre as ovelhas e os cabritos. Repare no contraste, na diferença de tratamento que Deus faz entre os seus filhos e os filhos da ira:
“Porque o SENHOR abomina o perverso, mas aos retos trata com intimidade.” Provérbios 3.32
“O caminho do SENHOR é fortaleza para os íntegros, mas ruína aos que praticam a iniqüidade.” Provérbios 10.29
“Abomináveis para o SENHOR são os perversos de coração, mas os que andam em integridade são o seu prazer.” Provérbios 11.20
“O caminho do perverso é abominação ao SENHOR, mas este ama o que segue a justiça.” Provérbios 15.9
“O SENHOR está longe dos perversos, mas atende à oração dos justos.” Provérbios 15.29
Quando nos deparamos com estas verdades, somos obrigadas a reconhecer que não existe ser humano “neutro” diante de Deus. Ou eles serão justificados e escaparão da ira de Deus por causa do pecado, pelo sangue de Cristo, ou eles mesmos pagarão por seus pecados, não apenas nesta vida, mas eternamente no inferno. Por isso é impossível haver comunhão entre os filhos da luz e os filhos das trevas. Eles cogitam das coisas do mundo, eles vivem para agradar ao seu próprio ventre, para satisfazer os desejos da carne e em última instância, jazem no Maligno. Não amam a santidade e a justiça de Deus; não desejam ardentemente mortificar a carne e negar-se a si mesmos. Para eles, a Palavra de Deus é estorvo, seu mandamentos incabíveis, a forma de vida dos santos é motivo de piada.
Porque devemos ter aversão pela vida dos ímpios
Quando lemos atentamente o Salmo de número 1, somos apresentadas à mesma forma de contraste. A diferença entre a vida dos santos e dos ímpios. O salmista começa dizendo que feliz é o homem que não tem prazer na companhia do ímpio, antes o seu prazer está na Lei do Senhor e na sua Lei medita de dia e de noite. Comentando este trecho, Calvino diz o seguinte:
Começando com uma declaração que revela sua aversão pelos perversos, ele nos ensina quão impossível é para alguém aplicar sua mente à meditação na lei de Deus, se antes não recuar e afastar-se da sociedade dos ímpios… Para que vivamos plenamente conscientes dos perigos que nos cercam, necessário se faz recordar que o mundo está saturado de corrupção mortífera, e que o primeiro passo para se viver bem consiste em renunciar a companhia dos ímpios, de outra sorte é inevitável que nos contaminemos com sua própria poluição. (O livro dos Salmos, pg 50)
Portanto, se desejamos nos santificar e manter nossa mente cativa aos ensinos do Senhor, se desejamos meditar na sua lei de dia e de noite, e delinear a nossa vida por ela, a companhia dos ímpios é um grande empecilho para isso.
A advertência do Salmo primeiro é seríssima. Ele nos mostra que a vida do crente é pautada pela lei de Deus, enquanto o ímpio cria suas próprias leis e obedece a seu coração enganoso e corrupto. É por isso que Davi declara: “Não tenho me assentado com homens falsos e com os dissimuladores não me associo. Aborreço a súcia de malfeitores e com os ímpios não me assento… quanto a mim, porém, ando na minha integridade…” (Salmos 26. 4-5 e 11)
Porque começaremos a viver como eles
Esta talvez seja a alegação mais forte do Salmista para que não nos associemos com os ímpios! Calvino explica isso de forma primorosa:
A suma de tudo é: os servos de Deus devem diligenciar-se ao máximo por cultivar aversão pela vida dos ímpios. Como, porém, a habilidade de Satanás consiste em insinuar seus embustes, de uma forma muito astuta, o profeta, a fim de que ninguém se deixe insensivelmente enganar, mostra como paulatinamente os homens são ordinariamente induzidos a desviar-se de seu reto caminho. No primeiro passo, não se precipitam em franco desprezo a Deus; mas, tendo uma vez começado a dar ouvidos ao mau conselho, Satanás os conduz passo a passo, a um desvio mais acentuado, até que se lançam de ponta cabeça em franca transgressão. O profeta, pois, começa com “conselho”, termo este, a meu ver, significando a perversidade que ainda não se exteriorizou abertamente. A seguir ele fala de “vereda”, o que deve ser tomado no sentido de habitual modo ou maneira de viver. E coloca no ápice da ilustração o “assento”, uma expressão metafórica que designa a obstinação produzida pelo hábito de uma vida pecaminosa. (O livro de Salmos, pgs 51-52)
Esta é a progressão evidente! Primeiramente passamos a pensar como eles, depois tomamos as mesmas atitudes e por fim temos sua maneira de viver como a nossa maneira de viver!
Se já não bastasse a nossa própria corrupção natural e as investidas do mundo e de Satanás diretamente contra nós, na companhia dos ímpios somos ainda mais tentados e inflamados a nos parecer com eles. E é tudo tão absurdamente gradativo que o crente descuidado, aquele que não tem o seu prazer na lei do Senhor, mas na companhia de perversos pecadores, mal pode observar em quão distante têm ficado de Deus. A relação é inversamente proporcional: quanto mais tempo gastamos na companhia de homens que não amam ao Senhor, mais distantes de Deus e mais parecidos com eles nos tornamos! E note bem, esta não é a minha opinião! Isto é o que o Salmo primeiro nos ensina. Progressivamente passamos a admirá-los, a escutá-los. No começo, até relutamos em aceitar suas idéias, mas o convívio e a amizade vai nos fazendo amolecer e a nos tornar mais complacentes com seus pensamentos, até que por fim, passamos a praticá-los. Por este motivo o sábio Salomão notifica: “Não entres na vereda dos perversos, nem sigas pelo caminho dos maus. Evita-o; não passes por ele; desvia-te dele e passa de largo…” (Provérbios 4.14-15) e também: “Não te associes com o iracundo, nem andes com o homem colérico, para que não aprendas as suas veredas e, assim, enlaces a tua alma.” (Provérbios 22.24-25). O alerta de que, certamente, passaremos a imitar seus pecados é claro!
Porque amamos e servimos a senhores diferentes
Creio que até aqui ficou bem claro o abismo que existe entre os que têm o sangue do Cordeiro sobre os umbrais das suas portas e os egípcios! A distância eterna que separa os que tiveram seus pecados cobertos e não receberão a ira de Deus, daqueles que terão que responder por cada pensamento, cada palavra e cada atitude destoante da lei de Deus!
Há, porém, outro motivo para não desejarmos a destra de companhia dos ímpios: nós amamos senhores diferentes! Nós vivemos em mundos diferentes, desejamos coisas diferentes. Nós amamos ao Senhor e à sua lei. Estamos aqui nesta terra como peregrinos e forasteiros, mas nossos olhos estão fitos em Deus! Nosso alvo é Cristo, nosso rumo é o céu. Aspiramos uma pátria superior. Nada neste mundo tem valor para nós, se não nos faz chegar mais perto de Deus. Nosso viver é Cristo. O morrer? O morrer é LUCRO! Como podemos, então, desejar a parceria de alguém que despreza tudo que nos é tão caro? Como posso conviver de tão perto com alguém que só pensa neste mundo, que só deseja satisfazer a seus próprios apetites, que não tem a esperança da glória? Como dividir a vida com alguém que odeia Aquele que é a razão do meu viver? Como posso me associar com alguém que não se deleita em ouvir sobre as maravilhas das verdades de Deus? Como? Como? Se meu maior prazer e alegria nesta vida está relacionada ao Senhor e a tudo que envolve o Seu Reino, como poderia compartilhar a vida com alguém que despreza tudo isso?
Nossos Senhores são diferentes! Nós amamos e servimos o único e verdadeiro Senhor, eles, servem a ídolos falsos, amam o próprio ventre. Nós somos regidos pela Palavra de Deus, eles, por seus corações corruptos. Nós caminhamos para nos parecermos mais com Cristo; eles, cada dia se distanciam mais deste ideal e se afundam na lama do pecado. Nós seguimos para o céu; eles, para o inferno.
Continua…
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* Simone Quaresma é casada há 25 anos com o Rev. Orebe Quaresma, pastor da Igreja Presbiteriana de Ponta da Areia em Niterói, Rio de Janeiro.
Professora de educação infantil, deixou a profissão para ser mãe em tempo integral de 4 preciosidades: Lucas (23 anos), Israel (22 anos), Davi (19 anos) e Júlia (17 anos). Ela trabalha com aconselhamento e estudos bíblicos com as mulheres da Congregação.